A vida!

Neste presente vivo, me sinto grata em ter nascido.
Uma paz me invade, como que a
pronunciar a serenidade.
Na ausência de comparação evidencia-se
a simplicidade, que é o antídoto
à depressão.
Na ausência de comparação posso
ver-me tal qual sou, sem um padrão
a me adaptar ou seguir, sem nada
que possa intervir nesse descobrir-se
que se descortina cada vez que me
abro por completo para aquilo que
é incerto. A vida!

Patrícia Nascentes

Impermanência...

Se fujo a todo tempo do que vai por dentro,
entro num impasse entre o que sou e penso que sou e no

circulo vicioso de um pensar linear.
Se me permito simplesmente estar,

sem me deixar tomar pela acomodação,
percebo a fluência da natureza em ação.
Nessa observação sem esforço,
vejo em mim novo esboço,
cada momento que a mim me atento.

Patrícia Nascentes

Certezas

Nas certezas após a indecisão nos condicionamos.
Nos condicionamentos nos superficializamos.
Na superficialidade embrutecemos.
Na brutalidade nos ignoramos.
Na ignorância não nos conhecemos.
Não nos conhecendo nos comparamos.
Nos comparando não nos aceitamos.
Não nos aceitando vivemos esperançosos.
Na esperança encontramos a frustração.
Na frustração a raiva.
Na raiva o conflito.
No conflito a desunião.
Na desunião as guerras.
Nas guerras o desequilíbrio geral.

Patrícia Nascentes

Presente

Sem esperança não há frustração porque
é a verdade que entra em ação.
O momento vivido é o único a ser provido
e fluente nos porporcionando sermos novos
e inocentes.
Observando-nos atentamente estaremos
sempre no presente onde tudo acontece,
não no passado ou futuro, onde tudo é obscuro.
Se alimentar do pão de cada dia
é perceber-se em sintonia,
por isto o próximo momento
é sempre um novo evento.

Patrícia Nascentes

Rimas

Com pouca sabedoria, um dia
em grande agonia, me pus a escrever
o que queria.
De sabedoria não havia nada,
apenas rimas calcadas.
Ainda assim continuo...
com rimas e tudo,
Senão perco o conteúdo,
de tal momento em que fiz,
me perceber por um triz.

Patrícia Nascentes

Encontrar

Encontrar no tempo as tempestades
Na calmaria a atemporalidade
Na busca o começo do aprendizado
Na perda o aprendizado do começo
No simples a mais harmoniosa canção da vida
Na vida a mais simples canção de si mesmo
E em si mesmo o som que não se opõe ao silêncio.

Patrícia Nascentes

Caminhada...

Dia amanhecendo c/ sol ou nublado,
é sempre um novo momento, um
despontar do inesperado.
Tarde tranquila ou não, a mente se
aquieta onde tudo se acomoda na hora certa.
Noite serena a desvanecer imagens formadas
pela mente atarefada em suas tardes trabalhadas.
Madrugada esperada p/ o descanso merecido de
um dia bem vivido.
Eis pelo que somos movidos!

Patrícia Nascentes

A pipa

A pipa desliza p/ lá e p/ cá
com sua rabiola a se enroscar.
Céu limpo, parece a pipa tomar vida
e conta do lugar.
Soberana impinando seu nariz pontiagudo,
deixando a cauda bailar sinuosa, se mostrando
magestosa em sua duradoura subida no ar.
Observando o movimento da pipa nesse
leva e trás cada vez ela bailava e se distanciava
mais.
Alcançando as alturas, impulsinada pelo vento,
se sentiu livre...
E não mais que de repente com sua linha cortada,
sai a rebolar frenetica, caindo suavemente
como que para um abismo sem saber o que irá encontrar,
após uma bela exibição de dança feita no ar!

Patrícia Nascentes

A ermo

A ermo com a solidão, me vejo querendo
sua mão.
Momentos inconstantes de tantas variantes
que me deixou variada.
A ermo com a solidão, me vejo querendo
um chão.
Da loucura que me embreaga à lucidez que
me traga, não há o que me agrada.
A ermo com a solidão, me vejo impermanente
e sem paixão.
Sentimentos que circundam como fantasmas
procurando abrigo, onde outrora era prisão.
A ermo com a solidão, me vejo vendo o fim
dessa situação, o que era cegueira agora é visão.
A ermo com a solidão, não é a solução.
A ermo com a solitude, ninguém se ilude.

Patrícia Nascentes